UNIVERSIDADE FEDERAL DE PELOTAS
UNIVERSIDADE ABERTA DO BRASIL
CENTRO DE EDUCAÇÃO ABERTA E A DISTÂNCIA
LICENCIATURA EM PEDAGOGIA – EaD
SISTEMATIZAÇÃO DA PRÁTICA
DOCENTE
Aline Scherer Leal Pereira
Sapucaia do Sul, 2013
Aline
Scherer Leal Pereira
SOCIALIZAÇÃO DA PRÁTICA
DOCENTE
|
Supervisor do
Estágio CLPD: Lilian Lorenzato
Supervisor do Estágio
Escola: Fabiana Raphaelli Dias
Sapucaia do Sul, 2013
Equipe docente responsável:
Professores a distância:
Lilian Lorenzato
Professores presenciais:
Joelma Guimarães
Marta Geneci Fernandes
Professor Formador:
Simone da Silveira
1. Resumo
O presente Relatório
de estágio em Educação Infantil realizado no Centro de Educação Básica Érico
Veríssimo com a turma do Pré II que abrange a faixa etária de cinco anos, teve
como objetivos principais realizar a prática em sala de aula, criar uma
aproximação com a realidade profissional através de situações reais de trabalho
e do envolvimento com a equipe diretiva, professores, funcionários e alunos da
escola, bem como compreender a complexidade existente no cotidiano escolar e
adquirir conhecimentos que possibilitem dar conta dessa tarefa. O trabalho
desenvolvido durante o estágio baseou-se na observação das crianças no ambiente
escolar, onde buscou-se trabalhar conteúdos que fossem significativos para as
crianças.
Palavras-chave: educação infantil, realidade,
envolvimento, complexidade, conhecimentos.
Sumário
2. Apresentação
Este relatório visa
apresentar uma sistematização do estágio realizado em Educação Infantil, para
isso divide-se em quatro subitens: etapa de ensino: traz ao leitor uma
definição sobre elementos importantes que devem ser considerados para que o
papel de professor seja considerado coerente; processo de ensino: demonstra uma
reflexão sobre a prática vivida durante o estágio, situações e descobertas
vividas através da relação direta com cada aluno; aprendizagem dos alunos:
apresenta as especificidades que vamos notando ao trabalhar com os alunos, seus
diferentes ritmos, como devemos estar atentos a isso, e a importância dos pais
no ambiente escolar para a formação de seus filhos; trabalho docente: procura
mostrar ao leitor que o conhecimento mais importante que um professor precisa
ter para garantir o processo de aprendizagem dos seus alunos é o conhecimento
da realidade de cada aluno.
Com o estágio em educação
infantil foi me dada à oportunidade de colocar em prática o conhecimento
aprendido em aula, e as experiências ouvidas ao longo do curso através dos
relatos das colegas que já vivenciam esta realidade como profissionais da
educação que se dedicam a ser, juntamente foi aberta a oportunidade de escolher
que prática trabalhar, como agir dentro da sala de aula, como conhecer e
entender aquelas crianças no tempo que estaria com elas, me fazendo
significativa bem como os conteúdos que trabalharia em sala de aula. O estágio
também possibilitou reciclar tudo o que já pensei em fazer e abriu novos
horizontes de coisas que jamais imaginei realizar enquanto professora, foi
possível ainda perceber quão complexa é a tarefa do cotidiano escolar, desta
forma abaixo descrevo alguns dos itens mais relevantes ao longo do estágio
realizado em Educação Infantil:
3.1 Etapa de ensino
A
educação infantil é uma etapa extremamente importante do aprendizado devido ao
fato de os estímulos recebidos pelas crianças nos primeiros anos de vida
definirem como será o seu desenvolvimento escolar e seu desenvolvimento
enquanto cidadão. A criança matriculada na educação infantil não está na escola
para aprender e receber um acumulo de conteúdos e ser alfabetizada, ela
necessita se socializar e interagir com os colegas, com a professora, está
descobrindo a realidade da sua comunidade, do caminho de sua casa até a escola,
é uma fase de descoberta da própria escola, e onde ela se descobre enquanto
sujeito da sua vida, uma etapa onde o ensino vem através das brincadeiras, das
histórias contadas e inventadas, das músicas ouvidas e coreografias ensaiadas.
Como afirma Aroeira: “A criança é um ser completo, num
contexto historicamente definido, conhecendo o verdadeiro papel que exerce em
sua família e na comunidade, é possível compreender melhor a linguagem, as ações,
sentimento, reações e possibilidades de seu desenvolvimento (1996, p. 21)”.
A educação
infantil se difere das outras etapas justamente por ser para a criança um
processo de conhecimento e desenvolvimento e convivendo socialmente na escola
ela pode se expressar e também se identificar através das formas com que as
outras crianças se expressam. Para que esse desenvolvimento ocorra de maneira
significativa é necessário que vários elementos sejam pensados e executados de
forma onde o foco seja a criança. Um
desses elementos é o currículo, através do estágio realizado entendi que pensar
em currículo e pensar no que trabalhar ao longo de um período com as crianças é
pensar quem são estas crianças, como elas aprendem, do que gostam, do que
necessitam, esse é o fundamento para se montar um currículo na educação
infantil, segundo Kraemer (2003): “[...]Apesar disso,
tamanha diversidade nos desafia a buscar alternativas estratégicas necessárias
a fim de concretizar esse currículo, que será capaz de compreender a criança
partindo das suas experiências e condições concretas de vida.” O currículo é um caminho a se
seguir, uma forma de organização do trabalho, e um método para se alcançar os
objetivos traçados, por isso precisa ser pensado e planejado com as crianças
para as crianças. Esse currículo além de ter fundamento legal, necessita ser
pensado através da realidade dessas crianças, os conteúdos devem contribuir
para o desenvolvimento intelectual e sua formação humana, enquanto cidadão. Outro
elemento de destaque no ensino da educação infantil é a avaliação que como
afirma Jussara Hoffmann: “A
avaliação é a reflexão transformada em ação, não podendo ser estática nem ter
caráter sensitivo e classificatório”. Para
avaliar o aluno preciso acompanha-lo, participar da sua jornada escolar, a
avaliação parte da observação do seu agir em geral, como se comporta, como se
expressa, como realiza as atividades, através do estágio isso ficou muito
claro, é de extrema importância que o professor tenha um caderno onde faça
anotações de suas observações em relação à cada criança, isso o auxiliará a
avaliar cada um em suas particularidades, este dossiê ajudará o professor a
perceber que em determinada tarefa ou situação uma criança não se saiu bem, ou
não consegue desenvolver ainda, mas em outras atividades tem um bom desempenho
por exemplo. Cito alguns itens que podem ser observados: linguagens, hábitos,
atitudes e o desenvolvimento psicomotor e cognitivo, porém acredito que as
crianças se desenvolvem de tantas formas que não caberiam aqui, por isso a
observação é fundamental, e ainda propor a eles a auto avalição, e até mesmo
solicitar que avaliem aos seus professores, avaliação é crescimento e
desenvolvimento para ambas as partes. Juntam-se a estes elementos aqui
apontados os espaços, o tempo e os materiais utilizados que devem ser pensados
de acordo com a faixa etária das crianças, seus gostos e visando seu
desenvolvimento de forma geral, é tarefa do professor a organização deste três
elementos, conforme apontam Maria Carmen Silveira Barbosa e Maria da Graça
Souza Horn: “Organizar o cotidiano das crianças da Educação
Infantil pressupõe pensar que o estabelecimento de uma sequência básica de
atividades diárias é, antes de mais nada, o resultado da leitura que fazemos do
nosso grupo de crianças, a partir, principalmente, de suas necessidades. É
importante que o educador observe o que as crianças brincam, como estas
brincadeiras se desenvolvem, o que mais gostam de fazer, em que espaços
preferem ficar, o que lhes chama mais atenção, em que momentos do dia estão
mais tranquilos ou mais agitados. Este conhecimento é fundamental para que a estruturação
espaço-temporal tenha significado. Ao lado disto, também é importante
considerar o contexto sociocultural no qual se insere e a proposta pedagógica
da instituição, que deverão lhe dar suporte. (BARBOSA;HORN, 2001, p. 67).” Todas essas percepções partem da nossa atenção às
nossas crianças e suas manifestações, vivenciando a prática em sala de
aula, precisei me adaptar rapidamente a
sua rotina, seus tempos e espaços, pude perceber quantos espaços a escola
possui que colaboram para o desenvolvimento das crianças, mas que de certa
forma, estão “abandonados”, como os colchões que ficam amontoados no fundo da
sala, enquanto certa hora da tarde muitas crianças estão debruçadas por cima
das mesas repetindo que estão com sono. Acho importante como suas idades variam
de quatro a seis anos e a idade média é cinco, que pudessem ter um momento onde
descansassem um pouco e relaxassem de forma mais confortável, às vezes as
atividades são muito direcionadas para a queima de energia. Como a escola tem
sérios problemas em sua estrutura predial, o professor para ser coerente com
sua função nesta etapa de formação precisa estar sempre se renovando e avaliando
o seu planejamento para ultrapassar estes limites, não se acomodar e através do
que dispõem desenvolver um aprendizado de qualidade e significativo aos
educandos.
3.2
Processos de ensino
Refletindo
sobre minhas ações no estágio em Educação Infantil, posso afirmar o quão
complexa é essa tarefa da sala de aula, de dar conta das demandas que se
apresentam, procurei acima de tudo planejar e me planejar e dominar aquilo que
planejei estudar sobre o que gostaria de dialogar com as crianças em sala de
aula, ter embasamentos daquilo que estava lhes propondo para assim
problematizar com eles, sobre isso Vasconcelos (2000, p.35) diz: “Planejar é antecipar mentalmente uma
ação a ser realizada e agir de acordo com o previsto; é buscar fazer algo
incrível, essencialmente humano: o real ser comandado pelo ideal”.
Mesmo planejando de acordo com as orientações da professora titular e levando
para a sala de aula conteúdos pré-programados, busquei ao final de cada aula
dialogar com eles sobre o que aprenderam, o que mais gostaram na aula e aquilo
que não gostaram, o que gostariam de ver ou fazer em sala de aula, qual
brincadeira queriam fazer, com que tipo de material queriam trabalhar, e assim,
como num quebra-cabeça as peças foram se encaixando e minha experiência como professora
tomando forma e a troca ensino-aprendizagem acontecendo. Percebi algo
maravilhoso para o desenvolvimento das crianças enquanto sujeitos autônomos que
estão se formando que foi a prática da leitura, eles ainda não sabe ler, mas
amam ouvir e contar histórias, ficam estáticos para ouvir uma historinha, e se
esta tiver então uma ilustração, bonecos ou um teatro, a fantasia toma conta de
sua imaginação. O trabalho com música e religião despertou neles muita alegria.
Percebi algumas dificuldades que as crianças
apresentavam em relação a diferenciação de tamanhos e quantidades, o senso de
organização para realizar atividades físicas ou brincadeiras em grupo, então
através dessas percepções trabalhei estes temas mais de uma vez com eles afim
de que se desenvolvessem. Mas também percebi alguns pontos que não puderam ser
atendidos por uma intervenção da própria escola, como o aluno de inclusão que
tem laudo de paralisia cerebral, e tanto a monitora quanto a professora titular
de certa forma o “protegem” tanto que ele acaba deixando de realizar coisas
possíveis que ele deseja, devido aos excessos de cuidado por parte da escola.
Estive com ele na pracinha sem sua monitora e ele andou de escorregador e se
divertiu muito por uns vinte minutos, quando a professora titular foi nos
observar e se deparou com ele andando, de longe começou a gritar para mim que
ele não podia fazer isso, que poderia acabar em incomodação, este ponto gostaria
de ter tido a liberdade para trabalhar com ele esse desenvolvimento de
autônomia nos brinquedos da pracinha que lhe traziam tanta felicidade e
independência.
3.2 Aprendizagem
dos alunos
Com
o passar dos dias vamos conhecendo e aprendendo mais sobre cada criança. Nota-se a diferença de
ritmos, alguns terminavam as tarefas muito rápidas e conversando distraiam
outros que não conseguiam o mesmo desempenho, então, combinei que aqueles que
terminassem seu trabalho primeiro iriam auxiliar aos demais, foi muito
produtivo, e gratificante ver o empenho de uns em auxiliar os outros, e assim,
como eu não poderia auxiliar a cada um pontualmente, todos os que precisavam,
passaram a receber ajuda e desenvolver suas atividades. Junto com a aprendizagem surgem às
dificuldades, nota-se em alguns alunos a falta de concentração, de vontade de
interagir com a professora e com os colegas, e assim as atividades propostas
não fazem sentido, isso ocorreu na turma do Pré-II onde realizei o estágio,
alguns alunos simplesmente não gostavam de fazer nada, e logo ouvindo as
conversas entre eles e os colegas, pude notar muitas das possíveis causas para
este baixo rendimento em sala de aula: aluno que sofria agressão do padrasto,
aluno que o pai é traficante de drogas e outro que a mãe trata como uma menina
e o punia pintando suas unhas com esmalte. Para garantir um desenvolvimento
mais qualificado desses alunos gostaria de trabalhar juntamente com os pais,
tentando buscar dentro da casa do aluno um novo olhar para a sua educação e
desenvolvimento. Minner, Prater e Beane (1989) também afirmam: “Muitos educadores também concordam que
trabalhar cooperativamente com os pais aumenta a probabilidade de que a criança
tenha uma experiência de vida escolar bem sucedida” (p. 619). Entendo
que se a escola não estiver entrelaçada aos pais, não haverá desenvolvimento,
essa é a maneira de garantir uma unidade na turma, de perceber avanços
significativos e coletivos, interagindo com os pais dentro do possível, criando
situações que os envolvam com a escola.
3.3 Trabalho docente
A
partir da experiência vivida fica claro que o professor precisa acima de tudo
conhecer seus alunos e a realidade em que vivem, é necessário o conhecimento
prévio ainda que pequeno sobre cada criança, sobre o seu bairro, sua família,
suas dificuldades, seus gostos, seus anseios e desejos, a partir destes conhecimentos prévios dos
alunos e seu entorno faz-se necessário estudar os conteúdos que se deseja
trabalhar planejá-los e ter domínio
sobre cada assunto abordado, sem achar que já se esgotou tudo o que se pode
aprender sobre ele, é necessário problematizar. Assim posso citar “(...) Como professor preciso me mover
com clareza. Preciso conhecer as diferentes dimensões que caracterizam a
essência da prática, o que me pode tornar mais seguro do meu próprio desempenho
.Freire (1999: 80). Os conteúdos, a sala de aula e os processos
de aprendizagem devem estar organizados de acordo com os alunos adequados a sua
faixa etária, a sua segurança, a sua realidade, aos seus gostos, propiciando a
eles prazer em estar no ambiente escolar construindo e trocando conhecimentos.
A experiência trazida pelo
estágio em educação infantil foi enriquecedora e muito significativa, pois
possibilitou um aprofundamento das etapas e dos processos de ensino. A vivência
deixou ainda mais claro o quanto o currículo, a avalição, os espaços, os
planejamentos precisam ser totalmente voltados para as crianças, adequados a
elas e sua realidade, pensados para elas, a partir do conhecimento que devemos
buscar delas, da investigação do seu cotidiano, e da sua história. É impossível
fazer acontecer o desenvolvimento infantil sem a participação ativa e autônoma
das crianças. Outra experiência intrigante foi vivenciar que os próprios
professores na busca de ajudar seus alunos acabam por impedir muitas vezes o
seu progresso físico e mental e percebi isto como um limite na escola onde
realizei o estágio, pois não foi possível um diálogo sobre o assunto, onde
pudesse expor o meu ponto de vista, e até mesmo discutir com as professoras da
escola, o que tenho aprendido sobre conhecer a realidade das crianças e fazer e
trabalhar com elas aquilo que lhes é significativo. Um tema que acredito deve
ser trabalhado até para que se possa trocar este conhecimento com os outros
professores já formados, seria a inclusão social, como receber essa criança e
como posso desenvolver junto com ela. Os
alunos aprendem e nos surpreendem e se desenvolvem muitas vezes de formas não
convencionais, e precisamos estar abertos e atentos para que possamos ajuda-los
a encontrar estas formas de desenvolvimento e não servir de empecilho quando
eles estão tentando nos mostrar novos caminhos, somos instrumentos mediadores
entre eles e o conhecimento, o desenvolvimento e a sua formação.
Toda a experiência que o
estágio proporcionou serve para ampliar o entendimento de que ao me tornar um
profissional da área da educação deve buscar uma atuação efetiva,
significativa, democrática e transformadora.
5- Referências
Bibliográficas
AROEIRA, Maria Luísa Campos. Didática de pré-escola: vida da criança: brincar e aprender. SP: FTD,
1996.
HOFFMANN, Jussara. Avaliação
Mediadora: Uma Prática em Construção da Pré-Escola à Universidade.
KRAMER, Sonia (org.). Com a pré-escola nas
mãos: uma alternativa curricular para a Educação Infantil. São Paulo:
Ática, 2003.
BARBOSA, M. C. S.; HORN, M. G. S. Organização do espaço e do tempo na escola infantil. In: CRAIDY, C.;
VASCONCELOS, C dos S. Planejamento: Projeto de ensino aprendizagem e projeto político
pedagógico. São Paulo, Libertad, 2000.
FREIRE, Paulo. Pedagogia
da Autonomia: Saberes necessários à prática educativa/Paulo Freire São Paulo:
Paz e Terra, 1996. (Coleção leitura).
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