sexta-feira, 17 de outubro de 2014

Da Nossa Escola Primária



Freire, Paulo. e Guimarães, Sérgio. Sobre Educação: Diálogos. Volume I. Editora Paz e Terra.

Paulo e Sérgio descrevem diálogos sobre a nossa escola primária em forma de questionamentos e explicações, expondo suas percepções sobre as dificuldades de ser professor primário em nosso país, sobre as lutas enfrentadas por escolas de periferia, de classes financeiras mais baixas em prestar um ensino de qualidade. Paulo também critica o autoritarismo das escolas que impõem a transferência de conhecimento e Sérgio fala sobre como pode agir um educador primário enquanto não chegam às mudanças e reformas no ensino, considerando que a questão política está no centro do problema da escola.

A leitura compreende o trecho entre às páginas 35 e 49 da obra.

Paulo inicia falando sobre um dos problemas que considera grave, que é o da linguagem manipulada pela escola enquanto instituição social, linguagem que nem sempre corresponde a dos meninos populares e assim toca em outros problemas como o de que a escola não vem incorporando avanços no campo da tecnologia, e expõe ainda mais uma questão à Sérgio de até que ponto a escola primária e não só ela, vai insistir em seus procedimentos, com seus comportamentos de estimular posições passivas dos educandos usando o autoritarismo da transferência de um conhecimento parado ao invés de se convidar a criança a pensar e a aprender a aprender. Paulo em 59 já criticava essa transferência de um saber inerte em lugar de levar o estudante atuar e pensar e assim, conhecer, incorporar, criar, produzir seu conhecimento. E dizia mais que a escola teria que criar uma nova posição do estudante, a da pesquisa, da busca, a do trabalho e da vitalidade ao invés de “idéias inertes”, dessa superposição da escola à realidade contextual do educando, essa imobilidade que a escola propõe, imobilidade mental, muito mais do que física, esse quase gosto por não falar, não perguntar, não inquirir, como se perguntar ou duvidar fossem pecados capitais. Isso também é expressão do autoritarismo brasileiro e também centralismo, quer dizer: o centro sabe e fala, a periferia escuta e segue. É exatamente essa a luta de um dos maiores educadores que este país já teve Anísio Teixeira, contra o centralismo diretamente ligado à compreensão desse autoritarismo e desse descaso, inclusive que a escola tem pela problemática dos seus educandos. Para Paulo um dos objetivos fundamentais que a escola deveria se propor seria exatamente o exercício dessa curiosidade de saber, e assim ele passa a palavra a Sérgio.

Sérgio com a palavra discursa sobre o que um professor primário pode fazer na sua sala de aula, enquanto a mudança não vem, para ele a questão política esta no centro do problema da escola, porque se não muda a orientação governamental em relação aos grandes objetivos da educação, é evidente que a escola vai continuar na mesma direção e o professor primário nem sempre está colocado numa perspectiva que é a do educador que pensa os problemas da educação, ele é muito mais um operário do dia-a-dia da escola onde notas, problemas de disciplina e organização escolar vem em primeiro plano. Paulo novamente questiona o que pode então um educador fazer numa situação como essa, e expõe que acha que cabe ao educador percebendo que sua tarefa é política procurar ocupar o espaço mínimo de que dispõe dentro da instituição escolar e ver o mínimo que pode fazer no sentido de uma abertura democrática para os seus estudantes ou alunos com quem trabalha. Os organismos de classe, as associações de classe deveriam lutar muito para levar um discurso diferente, eminentemente político aos trabalhadores do ensino, apoiar as reivindicações salariais mais ultrapassar esse nível e tentar a recapacitação dos professores e o desvelamento do momento histórico em que estão lutando, trabalhando sua responsabilidade diante de uma geração inteira. Sérgio começa a lembrar da luta para não aumentar de 35 para 40 o número de alunos em sala de aula. Fomos a luta e não conseguiram barrar o aumento. Vieram as estatísticas, como grande evasão escolar após a primeira série, e repetência de mais de 50% na primeira série, enquanto isso víamos as escolas-piloto com resultados muito bons, com recursos fartos, com metodologias e tecnologias avançadas. O problema na verdade, está no descaso pela classe popular, na falta de mínimas condições materiais. O despreparo da própria professora e a falta de apoio ao seu trabalho pedagógico, em lugar de apoio pedagógico, mais fiscalização.

Deveriam reunir as professoras de uma mesma série, a equipe de supervisão deveria reuni-lás a cada quinze dias, por exemplo, para uma manhã ou tarde de estudos, de avaliação prática das professoras, poderiam se reunir por disciplinas, por problemas gerais e tentar até uma vinculação da escola não apenas com as famílias, mas com as instituições da área, discutindo a problemática político-pedagógica dessa área, um trabalho como esse estimula a criatividade, a curiosidade e sobre tudo o direito de massas populares dizerem “por quê?”.

Para Paulo tudo isso são aspectos de um processo de transformação, esses problemas estão no bojo de um programa de educação, são problemas de cultura, problemas políticos, esses problemas estão no corpo de um processo global de transformação social de qualquer sociedade, são tarefas nossas já que queremos tanto bem a isso que estamos fazendo que é ter essa tarefa docente e discente simultaneamente.
ACADEMICA DO CURSO DE LICENCIATURA EM PEDAGOGIA "ALINE SCHERER LEAL PEREIRA"

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