terça-feira, 14 de outubro de 2014

RESENHA de: CAETANO, Juliana F. Estratégias metodológicas para o ensino de alunos surdos.


RESENHA de: CAETANO, Juliana F. Estratégias metodológicas para o ensino de alunos surdos. In: LACERDA, Cristina B. F. de; SANTOS, Lara F. dos (orgs). Tenho um aluno surdo, e agora? Introdução a Libras e educação de surdos. São Carlos: EdUFSCar, 2013.
A presente resenha faz referência ao capítulo 11- “Estratégias Metodológicas Para o ensino de Alunos Surdos”, do livro “Tenho um aluno surdo, e agora? Introdução a Libras e educação de surdos”, no qual apresento as principais ideias das autoras do artigo, bem como o meu posicionamento frente ao tema e o registro do que foi mais significativo em todo o andamento do eixo.
Na introdução do capítulo 11 as autoras iniciam colocando que o professor de alunos surdos, deve considerar as singularidades de apreensão e construção de sentidos dos alunos surdos quando em comparação aos alunos ouvintes, seguindo da efetiva parceria do professor junto ao intérprete de libras a fim de que as possibilidades de construção de conhecimento desses alunos sejam ampliadas, apontando a discussão neste capítulo para alguns princípios e estratégias que possam favorecer a preparação de aulas de forma a facilitar o acesso de alunos surdos aos conteúdos de sala de aula.
Na “Pedagogia visual” as autoras direcionam o pensamento para uma pedagogia que venha ao encontro das necessidades dos alunos surdos, que estão inseridos em um mudo que utiliza muito o visual e que a partir dele retiram a maior parte das informações necessárias para o seu aprendizado e para a construção do seu conhecimento. Neste sentido Campello é citado como defensor de uma semiótica imagética, campo que explora a visualidade, a constituição da imagem, as características da língua de sinais e da cultura dos surdos, considerando esses aspectos em uma significação mais ampla, não apenas no trabalho com gestos, mas explorando todas as características visuais e corporais da língua de sinais, com o uso de pés, pernas, expressões corporais e faciais, utilizados como recursos didáticos com o objetivo de favorecer a aprendizagem de alunos surdos.
Fala-se também, neste campo, sobre a cultura do olhar, que utiliza imagens, fotografias, maquetes, desenhos, mapas conceituais, gráficos, vídeos, trechos de filmes que poderiam ser mais exploradas, sendo úteis à apresentação dos conteúdos didáticos, favorecendo a compreensão, provocando reflexões e debates das mais diversas situações e objetivos pretendidos pelo professor, saindo do livro didático como único recurso, assim colaborando para uma educação que vai trazer benefícios não só para o aluno surdo, mas amplia as possibilidades de todos aprenderem numa perspectiva mais efetiva e reflexiva.
Nesta direção, onde a visualidade é o centro, segundo as autoras, é preciso perpassar pela elaboração do currículo, pelas estratégias didáticas, pela organização das disciplinas, pela utilização de recursos fortemente visuais, usufruindo do mundo das imagens em suas variadas nuances como grande aliada junto ás propostas educacionais e às práticas sociais, ampliando assim os “olhares” dos alunos surdos.
Na sequência em “É difícil preparar aulas para alunos surdos?” são colocados diversos depoimentos de professores que foram desafiados a organizar aula para alunos surdos, com o uso de Libras, considerando que não basta somente saber a língua, mas saber planejar aulas visualmente claras e que facilitem a atuação do intérprete e tanto a compreensão do aluno surdo como a do aluno ouvinte.
Assim as autoras pretendem realçar a necessidade de um bom planejamento que busque práticas de ensino adequadas á realidade do aluno surdo, destacando a importância de boas estratégias para a explicação dos conteúdos, a valorização do uso de Libras, e o uso de recursos visuais, contando com o trabalho conjunto do intérprete no processo educacional.
No último subtítulo “O intérprete de Libras e o professor: parceria necessária”, nos fala sobre esta parceria como sendo fundamental para um ensino adequado a alunos surdos e ouvintes e sobre a postura favorável que o professor precisa ter á atuação do intérprete de Libras (ILS), ou seja, o professor ao desenvolver sua aula, deve assumir práticas acessíveis que favoreçam o bom desempenho do ILS, e o ILS pode contribuir para o trabalho do professor, pois é ele que vai possibilitar o acesso ás informações e conteúdos ministrados pelo professor.
Uma das formas colocadas de promover esta parceria seria a de envolver o ILS no planejamento das atividades, e este ter acesso aos conteúdos que serão ministrados para que possa se preparar com antecedência e, assim, poder oferecer uma boa interpretação.
 Vasconcellos é citado para conceituar que “planejar é antecipar mentalmente uma ação ou um conjunto de ações a ser realizadas e agir de acordo com o previsto. Planejar não é, pois, apenas algo que se faz antes de agir, mas também agir em função daquilo que se pensa”.
Sendo assim, mais que apresentar os conteúdos ao ILS é preciso envolvê-lo no processo de planejamento, nas estratégias que o professor pretenda utilizar, desta forma o ILS pode sanar dúvidas, aprofundar-se na temática, contribuindo, opinando, sugerindo ideias e auxiliando na confecção de materiais visuais, favorecendo a todos os alunos.
Dando continuidade nas propostas de favorecer o trabalho do ILS, outra maneira seria a de reservar um espaço da lousa destinado a suas explicações ao aluno surdo, este pode construir visualmente o que pretende conduzir junto ao aluno surdo. Assim, o intérprete tem um melhor desempenho e o aluno melhor compreensão.
O capítulo encerra com as colocações de Lacerda onde ele afirma que o ILS tem uma relação estreita, cotidiana com os alunos surdos e, por esse motivo, não pode simplesmente interpretar sem se importar com a compreensão e o aprendizado deles. Nesta perspectiva, o ILS é peça fundamental também no que se refere à avaliação, pois é ele que acompanha mais de perto o processo de aprendizagem do aluno surdo.
Portanto a acessibilidade e a disponibilidade do professor na relação de parceria com o ILS, se bem discutida e negociada, só trará benefícios ao processo educacional.
Acerca da possibilidade de ser professor de um aluno surdo no futuro, no sentido da criação de estratégias metodológicas para o desenvolvimento do processo de ensino-aprendizagem, considero que o primeiro passo seria o de conversar mais profundamente e constantemente com a família do aluno surdo, tentando apropriando-se do contexto em que o aluno encontra-se inserido, ou seja, como é realizada a comunicação em casa, como a linguagem é utilizada, etc.
Também procuraria aprimorar os meus conhecimentos em Libras, mesmo que houvesse um ILS na sala, para que desta forma a comunicação entre o professor, o ILS e o aluno surdo obtivesse maior fluência.
Segundo Rosa (2009, p.56) a língua de sinais é ponto de referência para a instrução, interação, educação e o mais importante de tudo: é um direito do surdo. Impossível de ser desprezada, inegavelmente indispensável, a língua de sinais, pode-se dizer, é a alma da cultura surda.
Outra estratégia que adotaria seria a de troca de experiências conforme citada pelas autoras do livro em questão, não somente com o ILS, mas com outros profissionais que tiveram experiências parecidas ou com profissionais que atuam diretamente com alunos surdos em entidades especializadas.
Concordo com as autoras no que diz respeito ao uso de uma pedagogia visual, adotando nas aulas recursos visuais, desenvolvendo propostas educativas baseadas na visualidade da surdez, procurando através de pesquisa o aprofundamento nesta questão.
Sei que as dificuldades seriam imensas, mas quando somos professores de alunos surdos devemos procurar metodologias e estratégias para que o processo de ensino- aprendizagem desses alunos seja de qualidade.
Finalizando, sobre o que foi mais significativo para mim em todo o andamento do eixo, se refere à percepção de que o meu conhecimento sobre Libras era muito limitado. Neste primeiro contato propriamente dito com Libras, pude perceber que a língua de sinais não se resume somente aos gestos e em aprender o alfabeto, é muito mais amplo e cheio de significados. Esta percepção foi muito significativa e só fez aguçar a curiosidade e o querer saber mais sobre a cultura surda e todas as questões que envolvem esse assunto.



Bibliografia
ROSA, Emiliana Faria. Olhares sobre si: a busca pelo fortalecimento das identidades surdas.
Dissertação de Mestrado em Educação. Salvador: Universidade Federal da Bahia, 2009. Disponível em: http://www.dominiopublico.gov.br/pesquisa/PesquisaObraForm.do?select_action=&co_autor=82777.
Campello, A. R. S. Pedagogia visual/sinal na educação de surdos. In: Quadros, R. M.; Pelin,G. (Orgs.). Estudos surdos II. Petrópolis: Arara Azul, 2007. P100-131.
Vasconcellos, C.S. Planejamento de ensino–aprendizagem e projeto político pedagógico. Cadernos Pedagógicos do Libertad, São Paulo, (1),7.ed., 2000.
Lacerda, C. B. F. A inclusão escolar de alunos surdos: o que dizem alunos, professores e intérpretes sobre esta experiência. Cad. Cedes: Educação, Surdez e Inclusão Social, Campinas, v. 26, n. 69, p. 163-184, 2003.


 Paula Barbosa
“Acadêmica do Curso de Pedagogia- EAD da Universidade Federal de Pelotas (UFPel)”.


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