quarta-feira, 19 de novembro de 2014

ARTIGO:
PRÁTICA DOCENTE NO ENSINO FUNDAMENTAL – EJA


Fabiana Alves Gonçalves de Oliveira[1]

Resumo

Este artigo tem por finalidade relatar as experiências obtidas no estágio realizado em uma turma de EJA do Ensino Fundamental realizado em uma Escola da rede pública de ensino, objetivando colocar-nos frente a frente com a realidade da sala de aula sendo uma das propostas do curso de Pedagogia da UFPEL, promovendo a plena formação docente, focado para uma educação transformadora e coerente com os nossos dias. Aqui estará descrito o que foi realizado para garantir a efetivação do processo de ensino-aprendizagem.

Palavras-chave: estágio, EJA, realidade, ensino-aprendizagem.

Introdução:

O presente artigo tem por finalidade descrever o que esse estágio me proporcionou presenciar na realidade de uma sala de aula, conhecendo as características e a forma de organização de uma turma de EJA do Ensino Fundamental. Nele estão relacionados os elementos específicos que fizeram parte dessa etapa de estágio, o processo de ensino que trará algumas reflexões sobre minha ação em sala de aula e meu planejamento, aprendizagem dos alunos que mostrará quais as necessidades da turma e as atividades que foram trabalhadas para desenvolver a aprendizagem nos alunos e o trabalho docente como foi realizado e trará uma reflexão dos conhecimentos prévios que o professor precisa ter sobre os conteúdos e seus alunos.

Desenvolvimento:

Cada aluno é dotado de capacidades e conhecimentos próprios e em uma turma isso deve ser levado em consideração se baseando em uma metodologia de trabalho onde o aluno é um ser ativo e o conhecimento é construído pelo sujeito na sua relação com os outros e com o mundo, os conteúdos apresentados pelo professor precisam ser pensados e refletidos pelos educandos. Se tratando de uma turma de EJA onde foi realizado esse estágio a heterogeneidade da turma teve que ser levada em consideração no momento de planejar e desenvolver as atividades planejadas em sala de aula. Coube ao meu olhar adequar cada planejamento, cada atividade as necessidades especificas dos alunos buscando atender as especificidades de cada um dentro da sala de aula.

Assim nos afirma Carvalho, Araújo (1998, p.44):
“... a escola precisa abandonar um modelo no qual se esperam alunos homogêneos, tratando como iguais os diferentes, e incorporar uma concepção que considere a diversidade tanto no âmbito do trabalho com os conteúdos escolares quanto nas relações interpessoais.”


Isso me fez refletir como um futuro professor e até mesmo nessa prática de estágio que a individualidade de cada aluno deve ser respeitada, uma vez que somos diferentes uns dos outros o que faz com que todos tenham capacidades e limitações para aprender.

As propostas levadas para a sala de aula se basearam na inclusão que reconheciam e respondiam as diversas dificuldades dos alunos que se apresentavam em uma mesma atividade, acomodando os diferentes ritmos e estilos de aprendizagem possibilitando uma educação proporcional a todos em diferentes estratégias de ensino. Uma das ações que foi necessária para garantir a aprendizagem dos alunos foi que as atividades foram colocadas a todos, mas desenvolvida com cada um conforme seu ritmo e sua realidade sempre buscando valorizar suas próprias potencialidades de crescimento e aprendizagem contínua tendo em vista que a aprendizagem é um processo de construção e reconstrução de conhecimentos.

Partindo desse pressuposto meu planejamento teve que ser bem flexível, mas isso não quis dizer que não pude aplicar tudo o que tinha planejado a todos, pois de várias maneiras pude explorar todas as atividades nos diferentes níveis e processos de ensino aos quais os alunos se encontravam. Uma atividade que foi muito proveitosa para todos foi a construção de uma poesia alusiva ao dia dos namorados, considerando o grande grau de dificuldade que os alunos apresentavam para se expressar e escrever o que queriam, essa atividade superou todas as expectativas e eles mesmos se maravilharam com o que foi construído pela turma. Alguns apresentavam mais desenvoltura na escrita do que outros, por isso propus que a produção dessa poesia fosse coletivamente, onde uns puderam interagir com os outros, formando entre eles um elo para que as dificuldades de um fosse absorvida pelo outro e assim pudessem constituir uma troca onde todos se ajudassem nessa construção. Partindo dessa atividade pude perceber o grande grau de confiança que cada um passou a ter no seu pensar, na sua capacidade e possibilidade de criação, senti que a autoconfiança ficou mais evidenciada nos alunos. Essa poesia além de despertar todos esses aspectos citados, possibilitou um grande crescimento à turma no que se refere à produção textual e a leitura. Outra atividade que teve que ser desenvolvida de diferentes maneiras foi as que se referiam ao Sistema Monetário Brasileiro, ou seja, o nosso dinheiro, pois alguns alunos não estabeleciam a relação de quantidade aos valores e não tinham noções de quantidade. Esse tipo de atividade teve que ser trabalhada individualmente, aqueles que já associavam notas a valores e quantidades realizavam sem nenhum tipo de dificuldade, enquanto outros precisavam de exemplos e explicações mais práticas como amostras de dinheirinhos usando exemplos de sua realidade para melhor clareza e entendimento desse conteúdo, como o que posso comprar com uma nota de dez reais e aí o aluno ia citando várias coisas da sua realidade e vendo se isso poderia ser comprado com essa nota ou não. Outra dificuldade relatada por alguns alunos foi à troca e o esquecimento de letras na hora da escrita. Para solucionar esse entrave sugeri que eles realizassem bastante leitura e falei com a bibliotecária da escola para que eles pudessem pegar alguns livros para ler e os relatei o quanto o habito da leitura é importante e os ajudaria a escrever melhor. Alguns dos alunos em conversas na sala de aula disseram que já estão notando algumas diferenças na hora de grafar as palavras e que a leitura está ajudando muito. Acredito que essas escolhas feitas, planejadas ou não podem interferir muito na aprendizagem dos educandos, pois como foi colocado aqui nos exemplos de atividades realizadas nesse estágio muitas ações contribuíram na construção do seu conhecimento tendo em vista que estão indo ao encontro da satisfação de suas necessidades e expectativas.

De acordo com Gadotti é preciso saber e entender que:

“Todo ser humano é capaz de aprender e de ensinar, e, no processo de construção do conhecimento, todos os envolvidos aprendem e ensinam. O processo de ensino-aprendizagem é mais eficaz quando o educando participa, ele mesmo, da construção do ‘seu’ conhecimento e não apenas “aprendendo” o conhecimento. ”(Gadotti 1992, p.70)

Partindo dessa colocação o professor assume em sala de aula o papel de mediador, de facilitador do processo de aprendizagem, instigando seus alunos a refletir e a construir seu conhecimento e assim foi neste estágio onde a relação professor-aluno teve muitas trocas e o clima de afetividade contribuiu para que a aprendizagem ocorresse em uma interação contínua.

Em todas as situações sendo de aprendizagem ou não busquei sempre seguir o que dizia o Projeto Político Pedagógico da Escola e sua Matriz Curricular. Todos os conteúdos foram seguidos, de maneira que puderam sofrer algumas adaptações e transformações conforme a realidade e as vivencias de cada aluno sempre levando em consideração os conhecimentos prévios que os alunos tinham de determinados temas e conteúdos para assim nortear todo o trabalho em sala de aula. Para cada situação de aprendizagem ou dificuldade da mesma procurei ter sempre um olhar voltado para o diálogo onde a reflexão e a ação caminharam juntas e pude perceber com isso que o aluno principalmente o de EJA tem uma bagagem infinita e uma grande experiência de vida e por isso também é portador de saber. Ainda que precisasse atender a algum aluno em particular, a ação estava voltada para a atividade de todos os alunos em torno do mesmo objetivo e do conteúdo da aula. Faz-se assim cada vez mais evidente construir uma prática educativa que inove, pautada na construção e reflexão do conhecimento compartilhado, que possibilite agir, transformar e refletir na prática do ensino-aprendizagem é preciso pouco a pouco através dos desafios vivenciados no contexto olharem e perceber os obstáculos como possibilidades de construção do novo em sala de aula.

Minhas observações prévias realizadas antes do estágio me fizeram conhecer um pouco da turma, pois alguns alunos entraram após essa etapa de visitas e essa situação fez com que modificasse meu planejamento em alguns momentos partindo de que os alunos que entraram eram mais ágeis que os demais, precisando sempre de uma atividade extra. Para suprir essa necessidade, algumas atividades foram ampliadas. È sabido que os alunos aprendem melhor quando experimentam e descobrem novos significados antes despercebidos, por isso busquei estabelecer pontes entre a reflexão e a ação onde uma completava a outra. Quando busquei por alguns apoios dentro da escola parceira fui bem sucedida, nas atividades que exigiram algum tipo de complementação pude contar com ela como com a bibliotecária da escola que se mostrou incansável em ajudar os alunos a escolherem livros e a levarem para ler em casa, pois só o faziam nos momentos do Projeto de Leitura. Também pude contar com os recursos de vídeo e som da escola e isso facilitou em alguns momentos a aprendizagem dos alunos. Esse tipo de material veio para sala de aula como objetos de conhecimento e como ferramentas que apoiaram as criações dos alunos e permitiram aprimorar seu saber. Paulo Freire já havia levantado essa importante questão para a educação de jovens e adultos que é que se deve trabalhar com o que é significativo para o aluno e procurei trazer isso para minhas aulas.

Conclusão:

Esse estágio me proporcionou a oportunidade de vivenciar a prática com uma turma de jovens e adultos em sala de aula, permitindo assim fazer uma análise crítica e reflexiva sobre o papel do professor de educação no EJA. Durante esse estágio observou-se o quanto é importante para o desenvolvimento de cada aluno o respeito pela individualidade e um ambiente que seja propício para a sua aprendizagem e que valorize suas vivencias e seus conhecimentos prévios trazidos de suas realidades.
Conclui-se que a prática do planejamento é de suma importância, pois as estratégias e o olhar sobre a ação realizada contribuem para a tomada de consciência do professor sobre sua função mediadora no processo de aprendizagem dos alunos.

Foi uma experiência enriquecedora nessa minha caminhada, pois qualificou nossa prática pedagógica especificando nosso olhar diante das diversidades encontradas na escola que nos faz ter noções da docência na Educação de Jovens e Adultos.

Referências Bibliográficas:

GADOTTI, Moacir. Diversidade Cultural e Educação para Todos. Juiz de Fora: Graal. 1992. p. 21, 70.

______. Inclusão é o privilégio de conviver com as diferenças. Revista Nova Escola. ed.182.maio de 2005.





Fabiana Alves Gonçalves de Oliveira
Acadêmica do Curso de Licenciatura em Pedagogia- EAD da Universidade Federal de Pelotas UFPEL/ UAB.






[1] Professora da rede privada de Ensino de São Leopoldo, Aluna do Curso de Licenciatura em Pedagogia pela UFPEL – Pólo Sapucaia do Sul.

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