ARTIGO:
PRÁTICA
DOCENTE NO ENSINO FUNDAMENTAL – EJA
Fabiana
Alves Gonçalves de Oliveira[1]
Resumo
Este artigo tem por
finalidade relatar as experiências obtidas no estágio realizado em uma turma de
EJA do Ensino Fundamental realizado em uma Escola da rede pública de ensino,
objetivando colocar-nos frente a frente com a realidade da sala de aula sendo
uma das propostas do curso de Pedagogia da UFPEL, promovendo a plena formação
docente, focado para uma educação transformadora e coerente com os nossos dias.
Aqui estará descrito o que foi realizado para garantir a efetivação do processo
de ensino-aprendizagem.
Palavras-chave: estágio, EJA, realidade,
ensino-aprendizagem.
Introdução:
O presente artigo tem por
finalidade descrever o que esse estágio me proporcionou presenciar na realidade
de uma sala de aula, conhecendo as características e a forma de organização de
uma turma de EJA do Ensino Fundamental. Nele estão relacionados os elementos
específicos que fizeram parte dessa etapa de estágio, o processo de ensino que
trará algumas reflexões sobre minha ação em sala de aula e meu planejamento,
aprendizagem dos alunos que mostrará quais as necessidades da turma e as atividades
que foram trabalhadas para desenvolver a aprendizagem nos alunos e o trabalho
docente como foi realizado e trará uma reflexão dos conhecimentos prévios que o
professor precisa ter sobre os conteúdos e seus alunos.
Desenvolvimento:
Cada aluno é dotado de
capacidades e conhecimentos próprios e em uma turma isso deve ser levado em
consideração se baseando em uma metodologia de trabalho onde o aluno é um ser
ativo e o conhecimento é construído pelo sujeito na sua relação com os outros e
com o mundo, os conteúdos apresentados pelo professor precisam ser pensados e
refletidos pelos educandos. Se tratando de uma turma de EJA onde foi realizado
esse estágio a heterogeneidade da turma teve que ser levada em consideração no
momento de planejar e desenvolver as atividades planejadas em sala de aula. Coube
ao meu olhar adequar cada planejamento, cada atividade as necessidades
especificas dos alunos buscando atender as especificidades de cada um dentro da
sala de aula.
Assim nos afirma Carvalho,
Araújo (1998, p.44):
“... a escola precisa abandonar um modelo no qual se esperam
alunos homogêneos, tratando como iguais os diferentes, e incorporar uma
concepção que considere a diversidade tanto no âmbito do trabalho com os
conteúdos escolares quanto nas relações interpessoais.”
Isso me fez refletir como
um futuro professor e até mesmo nessa prática de estágio que a individualidade
de cada aluno deve ser respeitada, uma vez que somos diferentes uns dos outros
o que faz com que todos tenham capacidades e limitações para aprender.
As propostas levadas para
a sala de aula se basearam na inclusão que reconheciam e respondiam as diversas
dificuldades dos alunos que se apresentavam em uma mesma atividade, acomodando
os diferentes ritmos e estilos de aprendizagem possibilitando uma educação
proporcional a todos em diferentes estratégias de ensino. Uma das ações que foi
necessária para garantir a aprendizagem dos alunos foi que as atividades foram
colocadas a todos, mas desenvolvida com cada um conforme seu ritmo e sua
realidade sempre buscando valorizar suas próprias potencialidades de
crescimento e aprendizagem contínua tendo em vista que a aprendizagem é um
processo de construção e reconstrução de conhecimentos.
Partindo desse pressuposto
meu planejamento teve que ser bem flexível, mas isso não quis dizer que não pude
aplicar tudo o que tinha planejado a todos, pois de várias maneiras pude
explorar todas as atividades nos diferentes níveis e processos de ensino aos
quais os alunos se encontravam. Uma atividade que foi muito proveitosa para
todos foi a construção de uma poesia alusiva ao dia dos namorados, considerando
o grande grau de dificuldade que os alunos apresentavam para se expressar e
escrever o que queriam, essa atividade superou todas as expectativas e eles
mesmos se maravilharam com o que foi construído pela turma. Alguns apresentavam
mais desenvoltura na escrita do que outros, por isso propus que a produção
dessa poesia fosse coletivamente, onde uns puderam interagir com os outros,
formando entre eles um elo para que as dificuldades de um fosse absorvida pelo
outro e assim pudessem constituir uma troca onde todos se ajudassem nessa
construção. Partindo dessa atividade pude perceber o grande grau de confiança
que cada um passou a ter no seu pensar, na sua capacidade e possibilidade de
criação, senti que a autoconfiança ficou mais evidenciada nos alunos. Essa
poesia além de despertar todos esses aspectos citados, possibilitou um grande
crescimento à turma no que se refere à produção textual e a leitura. Outra
atividade que teve que ser desenvolvida de diferentes maneiras foi as que se
referiam ao Sistema Monetário Brasileiro, ou seja, o nosso dinheiro, pois
alguns alunos não estabeleciam a relação de quantidade aos valores e não tinham
noções de quantidade. Esse tipo de atividade teve que ser trabalhada individualmente,
aqueles que já associavam notas a valores e quantidades realizavam sem nenhum
tipo de dificuldade, enquanto outros precisavam de exemplos e explicações mais
práticas como amostras de dinheirinhos usando exemplos de sua realidade para
melhor clareza e entendimento desse conteúdo, como o que posso comprar com uma
nota de dez reais e aí o aluno ia citando várias coisas da sua realidade e
vendo se isso poderia ser comprado com essa nota ou não. Outra dificuldade
relatada por alguns alunos foi à troca e o esquecimento de letras na hora da
escrita. Para solucionar esse entrave sugeri que eles realizassem bastante
leitura e falei com a bibliotecária da escola para que eles pudessem pegar
alguns livros para ler e os relatei o quanto o habito da leitura é importante e
os ajudaria a escrever melhor. Alguns dos alunos em conversas na sala de aula
disseram que já estão notando algumas diferenças na hora de grafar as palavras
e que a leitura está ajudando muito. Acredito que essas escolhas feitas,
planejadas ou não podem interferir muito na aprendizagem dos educandos, pois
como foi colocado aqui nos exemplos de atividades realizadas nesse estágio
muitas ações contribuíram na construção do seu conhecimento tendo em vista que
estão indo ao encontro da satisfação de suas necessidades e expectativas.
De acordo com Gadotti é preciso saber e entender que:
“Todo ser humano é capaz de aprender e de ensinar, e, no
processo de construção do conhecimento, todos os envolvidos aprendem e ensinam.
O processo de ensino-aprendizagem é mais eficaz quando o educando participa,
ele mesmo, da construção do ‘seu’ conhecimento e não apenas “aprendendo” o conhecimento.
”(Gadotti 1992, p.70)
Partindo dessa colocação o
professor assume em sala de aula o papel de mediador, de facilitador do
processo de aprendizagem, instigando seus alunos a refletir e a construir seu
conhecimento e assim foi neste estágio onde a relação professor-aluno teve
muitas trocas e o clima de afetividade contribuiu para que a aprendizagem
ocorresse em uma interação contínua.
Em todas as situações
sendo de aprendizagem ou não busquei sempre seguir o que dizia o Projeto
Político Pedagógico da Escola e sua Matriz Curricular. Todos os conteúdos foram
seguidos, de maneira que puderam sofrer algumas adaptações e transformações
conforme a realidade e as vivencias de cada aluno sempre levando em
consideração os conhecimentos prévios que os alunos tinham de determinados
temas e conteúdos para assim nortear todo o trabalho em sala de aula. Para cada
situação de aprendizagem ou dificuldade da mesma procurei ter sempre um olhar
voltado para o diálogo onde a reflexão e a ação caminharam juntas e pude
perceber com isso que o aluno principalmente o de EJA tem uma bagagem infinita
e uma grande experiência de vida e por isso também é portador de saber. Ainda
que precisasse atender a algum aluno em particular, a ação estava voltada para
a atividade de todos os alunos em torno do mesmo objetivo e do conteúdo da
aula. Faz-se assim cada vez mais evidente construir uma prática educativa que
inove, pautada na construção e reflexão do conhecimento compartilhado, que
possibilite agir, transformar e refletir na prática do ensino-aprendizagem é
preciso pouco a pouco através dos desafios vivenciados no contexto olharem e
perceber os obstáculos como possibilidades de construção do novo em sala de
aula.
Minhas observações prévias
realizadas antes do estágio me fizeram conhecer um pouco da turma, pois alguns
alunos entraram após essa etapa de visitas e essa situação fez com que
modificasse meu planejamento em alguns momentos partindo de que os alunos que
entraram eram mais ágeis que os demais, precisando sempre de uma atividade
extra. Para suprir essa necessidade, algumas atividades foram ampliadas. È
sabido que os alunos aprendem melhor quando experimentam e descobrem novos
significados antes despercebidos, por isso busquei estabelecer pontes entre a
reflexão e a ação onde uma completava a outra. Quando busquei por alguns apoios
dentro da escola parceira fui bem sucedida, nas atividades que exigiram algum
tipo de complementação pude contar com ela como com a bibliotecária da escola
que se mostrou incansável em ajudar os alunos a escolherem livros e a levarem
para ler em casa, pois só o faziam nos momentos do Projeto de Leitura. Também
pude contar com os recursos de vídeo e som da escola e isso facilitou em alguns
momentos a aprendizagem dos alunos. Esse tipo de material veio para sala de
aula como objetos de conhecimento e como ferramentas que apoiaram as criações
dos alunos e permitiram aprimorar seu saber. Paulo Freire já havia levantado
essa importante questão para a educação de jovens e adultos que é que se deve
trabalhar com o que é significativo para o aluno e procurei trazer isso para
minhas aulas.
Conclusão:
Esse estágio me
proporcionou a oportunidade de vivenciar a prática com uma turma de jovens e
adultos em sala de aula, permitindo assim fazer uma análise crítica e reflexiva
sobre o papel do professor de educação no EJA. Durante esse estágio observou-se
o quanto é importante para o desenvolvimento de cada aluno o respeito pela
individualidade e um ambiente que seja propício para a sua aprendizagem e que
valorize suas vivencias e seus conhecimentos prévios trazidos de suas
realidades.
Conclui-se que a prática
do planejamento é de suma importância, pois as estratégias e o olhar sobre a
ação realizada contribuem para a tomada de consciência do professor sobre sua
função mediadora no processo de aprendizagem dos alunos.
Foi uma experiência
enriquecedora nessa minha caminhada, pois qualificou nossa prática pedagógica
especificando nosso olhar diante das diversidades encontradas na escola que nos
faz ter noções da docência na Educação de Jovens e Adultos.
Referências
Bibliográficas:
GADOTTI,
Moacir. Diversidade Cultural e Educação
para Todos. Juiz de Fora: Graal. 1992. p. 21, 70.
______.
Inclusão é o privilégio de conviver com
as diferenças. Revista Nova Escola. ed.182.maio de 2005.
Fabiana Alves Gonçalves de Oliveira
Acadêmica do Curso de Licenciatura em
Pedagogia- EAD da Universidade Federal de Pelotas UFPEL/ UAB.
[1]
Professora da rede privada de Ensino de São Leopoldo, Aluna do Curso de Licenciatura
em Pedagogia pela UFPEL – Pólo Sapucaia do Sul.
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