A valorização do sujeito
através da pesquisa do entorno da escola
Fabiana
Alves Gonçalves de Oliveira[1]
Resumo
Este artigo tem por
finalidade relatar as experiências obtidas na pesquisa do entorno realizada em
uma Escola da rede pública de ensino, objetivando colocar-nos frente a frente
com a realidade e o dia a dia dessa instituição de ensino, sendo essa uma das
propostas do curso de Pedagogia da UFPEL, promovendo a plena formação docente,
focado para uma educação transformadora e coerente com os nossos dias. Aqui
estará descrito o que foi realizado para criar vínculos com a Escola, sua
comunidade e família parceira.
Palavras-chave: entorno, pesquisa, escola,
comunidade, realidade.
Introdução:
A abordagem de pesquisa em
educação está sendo proposta pelo curso de Licenciatura em Pedagogia da
Universidade Federal de Pelotas e sua formação está sendo centrada na
investigação e pesquisa da escola e seu entorno e com esse trabalho, é que nós
acadêmicos, teremos subsídios para chegarmos mais próximos da realidade de cada
um.
A escola pesquisada está
localizada num bairro as margens do rio Santa Maria, na periferia da cidade de
Rosário do Sul, onde a maioria de sua população é formada por pessoas muito
simples. Sua estrutura física está distribuída em quadra de esportes, seis
salas de aulas, biblioteca, cozinha, banheiros femininos e masculinos,
secretaria, sala dos professores, sala da direção.
A metodologia utilizada na
realização dessa pesquisa foi a de aproximação e consolidação das parcerias com
as escolas e as famílias e a observação da realidade que me deu as primeiras
impressões através dos diálogos com os sujeitos envolvidos.
Essa pesquisa tem por
objetivo a investigação da escola e seu entorno para criar vínculos com a
comunidade e com as pessoas que se integram diretamente com ela, oportunizando
a percepção de fatos essenciais de seus redores e entorno social.
Desenvolvimento:
Vimos em nossos estudos
que as relações onde os indivíduos se relacionam entre si e com a natureza
constituem a realidade humana, que é o eixo principal das ações e dos
pensamentos dos indivíduos, que por sua vez, possuem expectativas de vida, onde
sua realidade muitas vezes o impede de realizar as melhorias e as mudanças
necessárias para o seu crescimento intelectual. Também ficou claro que, em toda
a ação é fundamental a mão humana em que o homem é o transformador do seu meio
e deve ser valorizado.
Então como pesquisadores,
devemos fazer um levantamento sobre as atividades cotidianas das famílias que
iremos pesquisar, onde o ato coletivo de trocas pode qualificar esse processo,
sempre respeitando as peculiaridades trazidas pelos sujeitos, sem invadir o seu
espaço.
Sendo assim, o primeiro
passo realizado nesse movimento de pesquisa foi à formação da parceria com a
Escola. Confesso que estava com certo receio de como seria a reação da equipe
diretiva em relação a esse fazer, pois eles não me conheciam, e nem eu a eles.
Mas, para minha surpresa, fui muito bem recebida pela diretora e direção da
escola, que aceitaram a proposta do curso e da pesquisa, tornando-se tranqüila
a formação da parceria com essa escola.
O próximo passo foi
escolher a família que realizaria a pesquisa e após realizar várias
observações, conversei na escola mesmo com a mãe de uma aluna do Projeto Brasil
Alfabetizado, fazendo as primeiras explicações sobre o que seria e qual a
intenção e a finalidade dessa pesquisa, onde a mesma aceitou que as visitasse.
Na primeira visita à
família, através das conversas realizadas com essa mãe, percebi que a família
tem muito zelo e cuidado com a aluna por ela ser portadora da Síndrome de Down,
mas isso não a impede de realizar várias atividades como estudar e frequentar a
APAE por exemplo.
Nesse fazer realizei
algumas visitas à casa da família, conversei muito com a mãe que se mostrou
sempre disposta a colaborar com a pesquisa, informando dados sobre a aluna, já
que a mesma possui dificuldades na fala, produzindo apenas sons. Descobri que a
família é formada por pai, mãe, filhos naturais e filhos adotivos, que a única
filha biológica do casal é essa, pois as outras duas irmãs são filhas somente
do pai e o seu irmão é adotado. A aluna demonstrou preferência por uma das
irmãs que não mora nesta cidade, mas que está pensando em voltar e isso a está
deixando muito feliz. Essa menina é bem quieta e tímida, posso dizer que
observei que isso ela herdou do pai, pois em uma única conversa que tivemos se
mostrou tímido.
Quanto às pesquisas e
observações que fiz em sala de aula, a menina é muito dedicada e realiza todas
as atividades propostas pela professora com muito entusiasmo e capricho. Gosta
de realizar recortes, colagens e pinturas e larga tudo o que está fazendo para
acompanhar a leitura oral realizada pela turma e professora, se esforçando o
máximo para reproduzir alguns sons. Conforme sua mãe, a menina é acompanhada
por uma fonoaudióloga e isso veio contribuir para uma melhora significativa no
seu desempenho quanto a sua fala, o que havia notado, pois ela já tinha sido
minha aluna e tem tido melhoras nesse processo.
Pude constatar que a
família da menina é muito presente em todos os seus passos na escola,
principalmente sua mãe que está sempre junto e preocupada em saber sobre as
atividades realizadas em sala de aula pela aluna, que até decidiu ir para a
escola e estudar também, sendo uma forma de estar sempre próxima da filha.
È muito importante
conhecer o nosso aluno, suas vivências e sua história de vida, pois cada ser é
único e traz consigo toda a formação sócio-histórico-afetiva com anseios e
conhecimentos prévios diferentes.
Nesse sentido a pesquisa
precisa ser compreendida como uma ferramenta e como um desafio para uma
educação de qualidade. Cada indivíduo é parte da sociedade na qual está
inserido, sociedade esta que está em constante transformação, necessitando de
ajustes e novas práticas que podem ser construídas por meio da pesquisa. Por
isso o professor precisa assumir uma postura de pesquisador para transformar a escola
e a educação.
Para FREIRE
“[...] não há ensino
sem pesquisa e pesquisa sem ensino. Esses que-fazeres se encontram um no corpo
do outro. Enquanto ensino continuo buscando, reprocurando. Ensino porque busco,
porque indaguei, por que indago e me indago. Pesquiso para constatar,
constatando, intervenho intervindo educo e me educo. Pesquiso para conhecer o
que ainda não conheço ou comunicar e anunciar a novidade”. (FREIRE,1997, p. 29).
Conforme o autor, essa
pesquisa me mostrou um vasto horizonte de possibilidades relacionadas à
educação. Percebi que o papel dos educadores é o de pesquisar sempre, de se
colocar no lugar do outro para assim saber o que de fato é necessário e
importante para a sua formação.
Partindo de esse
importante fazer, foram realizadas discussões e debates entre o nosso grupo de
estudos formado por acadêmicas desse curso, que através de relatos, cada um
colocou como foi sua pesquisa inicial com a escola e a família parceira. Foram
expostas as características de cada aluno e escola pesquisados, podendo
constatar que cada família tem um jeito próprio de ser e isso é demonstrado no
seu modo de falar, de se vestir e de se relacionar, onde se torna de
fundamental importância compreender as suas próprias vidas, para construirmos
um processo educativo a partir de uma escola que não seja invasiva, mas que dê
importância ao diálogo com os sujeitos e a sua valorização.
Conclusão:
Com
esse trabalho de investigação do entorno, observei que a pesquisa da cultura de
vida dos sujeitos é essencial, pois a valorização de suas bagagens, suas
experiências podem enriquecer e refletir no trabalho em sala de aula de maneira
significativa para o processo de ensino-aprendizagem através dos diferentes
modos de pensar e agir de cada um, onde a importância dessa investigação-ação
envolvendo a comunidade, a escola e o entorno
possibilita absorver o que os sujeitos possam colaborar com a educação,
baseado na bagagem e história que cada um trás consigo do meio em que vive. Só
assim será possível alcançar o que se espera nesse processo que é efetivar uma
educação significativa, humanizada e de comprometimento com a sociedade para a
construção e reconstrução da educação.
Uma
das grandes possibilidades está no diálogo, na investigação e no conhecer as
dificuldades e a realidade dos sujeitos, para assim termos consciência de como
agir para que o processo de ensino-aprendizagem seja eficaz e efetivo para
todos.
É pensando nisso, que o nosso trabalho de
pesquisador é fundamental para nortear uma educação de qualidade, onde os
sujeitos e a comunidade sejam valorizados como fonte do saber.
Referências
Bibliográficas:
FREIRE, Paulo
Pedagogia da Autonomia: Saberes necessários à prática educativa. 7ª ed.
São Paulo, Paz e Terra, 1996.
KIELING,
José Fernando, A realidade como realidade humana. Licenciatura em
Pedagogia a Distância UFPEL. Pelotas: Editora e gráfica Universitária, 2010.
BRANDÃO,
Cariso Rodrigues, Parceria no curso de
pedagogia à distância: para além do discurso. . Licenciatura em
Pedagogia a Distância UFPEL. Pelotas: Editora e gráfica Universitária, 2010.
[1]
Professora da rede pública de ensino, Aluna do Curso de Licenciatura em
Pedagogia pela UFPEL – Pólo de Rosário do Sul.
Nenhum comentário:
Postar um comentário