sexta-feira, 17 de outubro de 2014

Resenha A Língua de Eulália


A Língua de Eulália

Marcos Bagno, A Língua de Eulália, Editora Contexto, 1997, São Paulo, 215 páginas.

A obra sociolingüística de Marcos Bagno relata a história de três professoras do curso primário que vão passar férias na chácara da professora Irene em Atibaia-SP, ao passar dos dias suas férias se transformam numa experiência pedagógica onde as universitárias, conhecem vários conceitos da língua portuguesa e tem oportunidade de reciclar seus conhecimentos lingüísticos. Além disso, Irene consegue através dos encontros com as meninas, que elas vejam de uma maneira diferente as variáveis não padrão da língua portuguesa, tidas como “erradas” ou “pobres”.
O texto dividi-se em 21capítulos compostos por 68 seções, descritos nas 215 páginas que compõem a obra.
Através das críticas feitas por Vera, Silvia e Emília professoras e também universitárias, à Eulália, empregada e amiga de Irene, que é lingüista e também tia de Vera, a professora Irene através de encontros descontraídos consegue com que as jovens aprendam que palavras como “os probrema”, “os fósfro”, “môio ingrês”, “percurá os home” não são falas “erradas”, “nem feias”, “inadequadas”, “deficientes ou “pobres” e sim diferentes, é o português de uma classe social diferente da nossa, diferentes do padrão vigente. Assim ela desmistifica a Unidade Linguística do Brasil, explicando que não existe uma só língua falada, existe uma variedade linguística e deve ser respeitada, pois seu uso não é errado e sim diferenciado, do considerado padrão, porém o que parece erro no Português não-padrão tem uma explicação lógica e científica, ou seja, toda língua tem recursos para desempenhar sua função de veículo de comunicação, de expressão e interação entre os seres humanos e o Português não-padrão tem esses recursos, como diversas outras línguas no mundo inteiro. Enquanto a norma-padrão é o modelo ideal usado pelas autoridades, órgãos oficiais, pessoas cultas e deve ser aprendido e ensinado nas escolas o Português não-padrão é tido como a língua dos pobres e analfabetos e sofre os mesmos preconceitos que pesam sobre as pessoas das classes sociais desprestigiadas, marginalizadas e oprimidas no país.
Apesar disso, a professora Irene vê muito mais semelhanças do que diferenças entre o PP e o PNP, pois um falante escolarizado do RS pode se comunicar com um analfabeto das palafitas do Amazonas, graças a essas semelhanças, porém as pessoas escolarizadas enfatizam mais as diferenças, e em geral as diferenças sociais, tentando deixar bem claro a distância cultural, social e econômica que existe entre si e o falante não-padrão, daí nasce o preconceito linguístico e todo outro tipo de preconceito. Mas algumas características do PNP já são encontradas nas variedades usadas por falantes cultos, plenamente escolarizados, sua eficácia é visível, pois tornam as regras gramaticais mais simples, evitam as redundâncias, os excessos de marcas para indicar um único fenômeno isso ocorre com frequência no uso da concordância, dos plurais e na conjugação verbal, isso ocorre em várias línguas como o inglês mesmo na sua forma padrão.

Irene, explica que no português existem vários fenômenos lingüísticos, um deles é o rotacismo, que seria a troca do R por L nos encontros consonantais, e também o Yeísmo que é a troca do LH por I que ocorre em vários países da América do Sul; logo fala da Assimilação que transforma ND em N e MB em M, devido aos fonemas N e D pertencerem a família de consoantes que são chamadas dentais, a Assimilação faz com que dois sons que são diferentes mas tem algum parentesco, se tornem iguais, às vezes isso acontece outras vezes não; comenta sobre a redução dos ditongos OU em O e EI em E onde ocorre uma monotongação, ou seja, dois sons que se transformam em um só; explica sobre a questão do E e do O Átono Pretônico que é aquele que vem antes da sílaba tônica, e que a sílaba posterior chama-se postônica; outro fenômeno enfatizado por Irene é da Contração das proparoxítonas em paroxítonas, que não é uma exclusividade do PNP, pois palavras proparoxítonas latinas, passaram a ser paroxítonas também no Português padrão; a Desnalização das vogais postônicas que elimina o som nasal das vogais que estão depois das vogais tônicas; fala sobre o Português arcaico, que quer dizer “velho” ensinado no Brasil que ainda permanece em  algumas variedades não padrão do nosso português e prossegue explicando que a presença de aspectos arcaicos são comum a todas as línguas que foram transplantadas de um lugar para outro e quanto mais distante de seu local de origem, mais arcaica permanece a língua; numa próxima aula ela demonstra as inversões de sujeitos que ocorrem em algumas frases que não obedecem a forma convencional SVO(Sujeito-Verbo-Objeto), explicando que este recurso torna a frase mais elegante, além de dar maior ênfase à ação praticada, do que a quem a praticou, assumindo as formas SOV e VSO;
ACADEMICA DO CURSO DE LICENCIATURA EM PEDAGOGIA "ALINE SCHERER LEAL PEREIRA"

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