UNIVERSIDADE
FEDERAL DE PELOTAS
UNIVERSIDADE ABERTA
DO BRASIL
CENTRO DE EDUCAÇÃO
ABERTA E A DISTÂNCIA
LICENCIATURA EM PEDAGOGIA À DISTÂNCIA
O DESAFIO DA EDUCAÇÃO NA MODALIDADE
EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS - EJA
MÁRCIA VERIDIANA DA ROSA DOS SANTOS
Sapucaia
do Sul, Junho de 2014
RESUMO
O estágio com uma turma de
alfabetização da EJA foi de uma motivação constante. Além de ter inseridos dois
alunos de inclusão, a diferença de idade, variando entre 15 e 60 anos e do
nível de aprendizagem de cada aluno, desafiou a adequação do planejamento,
conteúdo, tempo e avaliação ao acompanhamento, praticamente, individualizado.O
planejamento foi totalmente baseado na observação, primeiro sob a orientação da
professora titular, seguido da rotina da turma e, finalmente, nas especificidades
de cada educando. Conforme orientações da modalidade, em particular, e da
escola no geral, buscamos aproximara teoria à prática na sala de aula de forma a promover a aprendizagem
significativa.
Palavras-chave: Planejamento;
Ação Docente; Aprendizagem;
INTRODUÇÃO
A Educação
de Jovens e Adultos realmente é um desafio a parte para, mas é apaixonante, pois em uma única turma trabalha-se com uma rica
diversidade, destacando-se situações bem peculiares uma das outras.
A turma
recebeu dois educandos de inclusão que ainda estão em processo de aprendizagem
da leitura, enquanto os demais alunos estão bem adiantados, lendo e escrevendo.
Nesse
sentido, para contemplar a todos, o planejamento foi realizado para três grupos
com atividades, tempos e avaliações diferenciadas,de forma que não fosse
exigido além do potencial de um grupo, causando bloqueios e/ou que as
atividades fossem fáceis demais para outros, causando desinteresse. Além disso,
todo o planejamento foi adequado às orientações da professora titular, aliado
as observações da turma, realidade e entorno da escola e aos objetivos da
etapa, sempre buscando aproximá-lo ao embasamento teórico, pois ambos precisam
andar juntos.
DESENVOLVIMENTO
A
maior característica da turma refere-se a diferença de idade entre o grupo que
a compõe, variando entre adolescentes de 15 anos, com histórico de fracasso
escolar, múltiplas reprovações e/ou evasões por motivos diversos e de adultos
deaté 60 anos que nunca estudaram e/ou estão retornando à escola depois de
terem cumprido as funções de pais, além de alunos de inclusão.
Entre os alunos de inclusão existem duas
situações diferentes:com a moça os trabalhos com os números precisam ser
bastante reforçados, pois ela apresenta dificuldade em aprender e assimilar as
quantidades, enquanto com as letras tem bastante facilidade, escrevendo, lendo
e interpretando palavras e frases curtas.Com o rapaz, além de ser um aluno novo,
o que dificulta maior conhecimento por parte da escola, é bastante
introvertido, não participando das atividades e não interagindo com demais
colegas. No entanto, gosta de desenhar e pintar, fazendo com muito caprichoe já
está inserido no mercado de trabalho.
Quanto aos demais alunos da turma,
dois estão em processo de aprendizagem e aperfeiçoamento da leitura, enquanto
os outros já estão bem avançados em escrita, leitura e matemática, dominando as
quatro operações.
Tanto o professor quanto o aluno
para alcançar seus objetivos, ensino/aprendizagem deveriam trazer presentes a ideia
de que “o homem para conhecer as coisas
em si, deve primeiro transformá-las em coisas para si[1].
Assim, refletindo sobre essa possível transformação que caminhos alternativos
foram buscadospara ajudar a aluna em sua dificuldade em relação aos números.
Além da elaboração conjunta de um caderno com números e quantidades
significativas,jogos de montar e de memória, de forma lúdica, a expectativa foi
de quea aluna pudesse construísse o conhecimento significativoe superando os
obstáculos, transformando os números, quantidades e cálculos “para si”, para sua realidade cotidiana.
De um modo geral, essa busca pelo
fazer sentidodo conteúdo foi a formatrabalhada com todos os alunos, de modo a
transcender a aprendizagem acadêmica, aproximando o conhecimento, o máximo
possível, à realidade de vida dos alunos, principalmente, porque são
adolescentes maiores de 15 anos e adultos.
Vasconcellos (1992) tem destacado a
necessidade da educaçãoescolar não se esquecer de relacionar todos os conteúdos
à realidade do educando e, principalmente, partir dos seus conhecimentos prévio
e do ambiente sócio cultural em que vivem. Ainda, afirma o autor, que essa é
única maneirade criarrelações significativas entre o objeto do conhecimento, o
aluno e sua realidade.
PLANEJAMENTO
O planejamento
foi baseado nas observações, orientações da equipe da escola e da professora
titular. A titular foi de extrema importância ao indicar os casos de inclusão,
as características de cada aluno, suas limitações e potencialidades, orientando
a melhor forma, até então confirmada, de condução de aprendizagem de cada
aluno.
[...] ajudando o
educando a construir a reflexão, pela organização de atividades, pela interação
e problematização junto ao aluno; os conceitos não precisam ser dados prontos;
podem ser construídos pelos alunos, propiciando que caminhem para a
autonomia.¨(VASCONCELLOS, 1992)
A
clareza e a objetividade, permeadas com problematizações, tem provocado o
interesse do aluno ao desacomodar suas convicções sobre determinado assunto.No
entanto, o processo de aprender/ensinar/aprender perpassa pela necessidade do
docente estar aberto a auto-avaliação. A partir desse exercício, não tão
simples, torna-se possível planejar atividades diferenciadas e direcionadas,
atrativas, lúdicas e, principalmente, com significação para os discentes.
Independentemente
da modalidade EJA, seja na educação infantil, educação básica, superior, etc.,
cada aluno é um ser único e histórico, resultado de suas interações sociais e
culturais. Assim, enquanto alguns têm dificuldades com números, outros as têm
com as letras ou artes. Ou, ainda, alguns têm altas habilidades em uma área
específica e nenhuma habilidade nas demais. Somando-se a essas características,
ainda existem os alunos de inclusão com inúmeras síndromes, necessidades
educativas especiais e laudos neuro-psiquiátricos.
Nesse
sentido, na turma de estágio na EJA todas essas peculiaridades estiveram
presentes, por isso a necessidade de três planejamentos diários, segmentados
por habilidades/dificuldades.
A
constante busca pela mediação de ações conforme a diversidade, orientações da
professora de como agir em cada caso, aliado pelas observações e leituras dos
teóricos da educação, proporcionaram orientações para que desenvolvesse
açõescoerentes para que os alunos se apropriassem dos conteúdos de forma
significativa e que transcendesse os muros da escola.
APRENDIZAGEM
Tomando
como aporte Vasconcellos (1992), como a turma era formada por os indivíduos bem
diferentes, não apenas na idade mas também no conhecimento,foi necessário observar
cada um para que deste modo conseguisse ajudar e até mesmo mudar a estratégia
de como seria apresentado o conteúdo e a problematização.
[...] com relação aos
alunos, é importante que conheça suas necessidades, interesses, representações,
valores, experiências, expectativas, problemas que se colocam, etc., como forma
de ter pontos articulação com o conhecimento a ser construído. (VASCONCELLOS,
1992)
Somente
após a observação, não apenas da turma, mas também da realidade como um todo, foi
possível o planejamento para proporcionar a aprendizado dos mesmos.Estas
informações foram essenciais para ter uma visão mais próxima dos alunos e fazer
uma seleção criteriosa dos conteúdos que seriam desenvolvidos, adequando a
metodologia.
A aprendizagem
ou a dificuldade de aprendizagem, exceto em casos específicos de síndromes e/ou
problemas neuropsiquiátricos, não pode ser dissociada da curiosidade, da
motivação da descoberta e, principalmente, do entrelaçamento entre o
conhecimento popular e o conhecimento científico, trazendo-o “para si”.
A
verdadeira aprendizagem, em qualidade, pode ser inferida pelo profesor no
momento em que percebe a construção do conhecimento pelo aluno, de forma
autônoma, ficando o professor com seu papel de mediador, orientador.
Despertar
a curiosidade através de problematizações e motivá-los com questionamentos, antes
de trazer os conteúdos,foi a forma de encontrada para ter noção do conhecimento
prévio da turma e direcionar o método para aprofundar os conteúdos, desmistificando
sensos comuns e motivá-los a busca de mais informações, de forma autônoma.
Esta
questão de problematizar e perguntar e, outras vezes,pedir para que eles sugerissem
um tema, abriu um leque de opções de seleção e de abordagem de conteúdos.
A proposta
foi elaborada após a observação, as anotações, e orientações da Universidade
Federal de Pelotas - UFPel e da escola. Porém, sempre que necessário,redirecionava
o conteúdo e/ou o tipo de atividade que seria proposta de forma a adequar às
expectativas dos alunos, naquele momento, sem distanciar-se da grade curricular
obrigatória.Na EJA, a ordem é ser flexível e andar no ritmo da turma para ter
resultado. Claro que este ritmo de certa forma é conduzido pelo professor, mas
respeitando o cansaço e o sono do aluno/trabalhador, a idade avançada do
aluno/idoso, os hormônios que desconcentram oaluno/adolescente e as limitações
específicas do aluno de inclusão.
Ensinar
ou aprender? Muito antes de ensinar, a aprendizagem durante o estágio foi a
tônica desse processo.
REDE DE
APOIO
Todas as
pessoas da escola, como professores, direção, supervisão e orientação formaram
uma rede de apoio em quedirecionaram e ajudavam, constantemente, com
orientações e sugestões, facilitando o processo do fazer-pedagógico.
CONCLUSÃO
Ao
final deste período de estágio onde foram colocadas em prática algumas teorias
e as pesquisas de entorno realizadas anteriormente, foi possível vivenciar como
o processo de aprendizado se concretiza diferentemente em cada indivíduo, de
uma turma de alfabetização de EJA, com características tão diversas.
A
certeza de que o questionamento constante do que fazer para que a próxima aula
seja melhor e mais apropriada ao êxito dos alunos, sempre fará a diferença
entre o despejar conteúdos e o construir conhecimento.
Portanto,
continuar aprofundando teorias e adequando as metodologias à realidade em que a
escola está inserida, com certeza, fará a diferença entre docência comprometida
e o ensinar mecânico; entre o aluno que aprende significativamente e o aluno que
memoriza mecanicamente.
Referências Bibliográficas
VASCONCELLOS, Celso dos S.
Metodologia Dialética em Sala de Aula. In: Revista de Educação AEC. Brasília:
abril de 1992 (n. 83).
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