terça-feira, 9 de dezembro de 2014

O DESAFIO DA EDUCAÇÃO NA MODALIDADE EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS - EJA



UNIVERSIDADE FEDERAL DE PELOTAS
                                   
                               UNIVERSIDADE ABERTA DO BRASIL
CENTRO DE EDUCAÇÃO ABERTA E A DISTÂNCIA
LICENCIATURA EM PEDAGOGIA À DISTÂNCIA











O DESAFIO DA EDUCAÇÃO NA MODALIDADE EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS - EJA









MÁRCIA VERIDIANA DA ROSA DOS SANTOS





Sapucaia do Sul, Junho de 2014
RESUMO
O estágio com uma turma de alfabetização da EJA foi de uma motivação constante. Além de ter inseridos dois alunos de inclusão, a diferença de idade, variando entre 15 e 60 anos e do nível de aprendizagem de cada aluno, desafiou a adequação do planejamento, conteúdo, tempo e avaliação ao acompanhamento, praticamente, individualizado.O planejamento foi totalmente baseado na observação, primeiro sob a orientação da professora titular, seguido da rotina da turma e, finalmente, nas especificidades de cada educando. Conforme orientações da modalidade, em particular, e da escola no geral, buscamos aproximara teoria à prática na sala de aula  de forma a promover a aprendizagem significativa.

Palavras-chave: Planejamento; Ação Docente; Aprendizagem;


INTRODUÇÃO
A Educação de Jovens e Adultos realmente é um desafio a parte para, mas é apaixonante, pois em uma única turma trabalha-se com uma rica diversidade, destacando-se situações bem peculiares uma das outras.
A turma recebeu dois educandos de inclusão que ainda estão em processo de aprendizagem da leitura, enquanto os demais alunos estão bem adiantados, lendo e escrevendo.
Nesse sentido, para contemplar a todos, o planejamento foi realizado para três grupos com atividades, tempos e avaliações diferenciadas,de forma que não fosse exigido além do potencial de um grupo, causando bloqueios e/ou que as atividades fossem fáceis demais para outros, causando desinteresse. Além disso, todo o planejamento foi adequado às orientações da professora titular, aliado as observações da turma, realidade e entorno da escola e aos objetivos da etapa, sempre buscando aproximá-lo ao embasamento teórico, pois ambos precisam andar juntos.

DESENVOLVIMENTO
            A maior característica da turma refere-se a diferença de idade entre o grupo que a compõe, variando entre adolescentes de 15 anos, com histórico de fracasso escolar, múltiplas reprovações e/ou evasões por motivos diversos e de adultos deaté 60 anos que nunca estudaram e/ou estão retornando à escola depois de terem cumprido as funções de pais, além de alunos de inclusão.
            Entre os alunos de inclusão existem duas situações diferentes:com a moça os trabalhos com os números precisam ser bastante reforçados, pois ela apresenta dificuldade em aprender e assimilar as quantidades, enquanto com as letras tem bastante facilidade, escrevendo, lendo e interpretando palavras e frases curtas.Com o rapaz, além de ser um aluno novo, o que dificulta maior conhecimento por parte da escola, é bastante introvertido, não participando das atividades e não interagindo com demais colegas. No entanto, gosta de desenhar e pintar, fazendo com muito caprichoe já está inserido no mercado de trabalho.
            Quanto aos demais alunos da turma, dois estão em processo de aprendizagem e aperfeiçoamento da leitura, enquanto os outros já estão bem avançados em escrita, leitura e matemática, dominando as quatro operações.
            Tanto o professor quanto o aluno para alcançar seus objetivos, ensino/aprendizagem deveriam trazer presentes a ideia de que “o homem para conhecer as coisas em si, deve primeiro transformá-las em coisas para si[1]. Assim, refletindo sobre essa possível transformação que caminhos alternativos foram buscadospara ajudar a aluna em sua dificuldade em relação aos números. Além da elaboração conjunta de um caderno com números e quantidades significativas,jogos de montar e de memória, de forma lúdica, a expectativa foi de quea aluna pudesse construísse o conhecimento significativoe superando os obstáculos, transformando os números, quantidades e cálculos “para si”, para sua realidade cotidiana.
            De um modo geral, essa busca pelo fazer sentidodo conteúdo foi a formatrabalhada com todos os alunos, de modo a transcender a aprendizagem acadêmica, aproximando o conhecimento, o máximo possível, à realidade de vida dos alunos, principalmente, porque são adolescentes maiores de 15 anos e adultos.
            Vasconcellos (1992) tem destacado a necessidade da educaçãoescolar não se esquecer de relacionar todos os conteúdos à realidade do educando e, principalmente, partir dos seus conhecimentos prévio e do ambiente sócio cultural em que vivem. Ainda, afirma o autor, que essa é única maneirade criarrelações significativas entre o objeto do conhecimento, o aluno e sua realidade.


PLANEJAMENTO

O planejamento foi baseado nas observações, orientações da equipe da escola e da professora titular. A titular foi de extrema importância ao indicar os casos de inclusão, as características de cada aluno, suas limitações e potencialidades, orientando a melhor forma, até então confirmada, de condução de aprendizagem de cada aluno. 
[...] ajudando o educando a construir a reflexão, pela organização de atividades, pela interação e problematização junto ao aluno; os conceitos não precisam ser dados prontos; podem ser construídos pelos alunos, propiciando que caminhem para a autonomia.¨(VASCONCELLOS, 1992)

A clareza e a objetividade, permeadas com problematizações, tem provocado o interesse do aluno ao desacomodar suas convicções sobre determinado assunto.No entanto, o processo de aprender/ensinar/aprender perpassa pela necessidade do docente estar aberto a auto-avaliação. A partir desse exercício, não tão simples, torna-se possível planejar atividades diferenciadas e direcionadas, atrativas, lúdicas e, principalmente, com significação para os discentes.
Independentemente da modalidade EJA, seja na educação infantil, educação básica, superior, etc., cada aluno é um ser único e histórico, resultado de suas interações sociais e culturais. Assim, enquanto alguns têm dificuldades com números, outros as têm com as letras ou artes. Ou, ainda, alguns têm altas habilidades em uma área específica e nenhuma habilidade nas demais. Somando-se a essas características, ainda existem os alunos de inclusão com inúmeras síndromes, necessidades educativas especiais e laudos neuro-psiquiátricos.
Nesse sentido, na turma de estágio na EJA todas essas peculiaridades estiveram presentes, por isso a necessidade de três planejamentos diários, segmentados por habilidades/dificuldades.
A constante busca pela mediação de ações conforme a diversidade, orientações da professora de como agir em cada caso, aliado pelas observações e leituras dos teóricos da educação, proporcionaram orientações para que desenvolvesse açõescoerentes para que os alunos se apropriassem dos conteúdos de forma significativa e que transcendesse os muros da escola.

APRENDIZAGEM
Tomando como aporte Vasconcellos (1992), como a turma era formada por os indivíduos bem diferentes, não apenas na idade mas também no conhecimento,foi necessário observar cada um para que deste modo conseguisse ajudar e até mesmo mudar a estratégia de como seria apresentado o conteúdo e a problematização.

[...] com relação aos alunos, é importante que conheça suas necessidades, interesses, representações, valores, experiências, expectativas, problemas que se colocam, etc., como forma de ter pontos articulação com o conhecimento a ser construído. (VASCONCELLOS, 1992)

Somente após a observação, não apenas da turma, mas também da realidade como um todo, foi possível o planejamento para proporcionar a aprendizado dos mesmos.Estas informações foram essenciais para ter uma visão mais próxima dos alunos e fazer uma seleção criteriosa dos conteúdos que seriam desenvolvidos, adequando a metodologia.
A aprendizagem ou a dificuldade de aprendizagem, exceto em casos específicos de síndromes e/ou problemas neuropsiquiátricos, não pode ser dissociada da curiosidade, da motivação da descoberta e, principalmente, do entrelaçamento entre o conhecimento popular e o conhecimento científico, trazendo-o “para si”.
A verdadeira aprendizagem, em qualidade, pode ser inferida pelo profesor no momento em que percebe a construção do conhecimento pelo aluno, de forma autônoma, ficando o professor com seu papel de mediador, orientador.
Despertar a curiosidade através de problematizações e motivá-los com questionamentos, antes de trazer os conteúdos,foi a forma de encontrada para ter noção do conhecimento prévio da turma e direcionar o método para aprofundar os conteúdos, desmistificando sensos comuns e motivá-los a busca de mais informações, de forma autônoma.
Esta questão de problematizar e perguntar e, outras vezes,pedir para que eles sugerissem um tema, abriu um leque de opções de seleção e de abordagem de conteúdos.
A proposta foi elaborada após a observação, as anotações, e orientações da Universidade Federal de Pelotas - UFPel e da escola. Porém, sempre que necessário,redirecionava o conteúdo e/ou o tipo de atividade que seria proposta de forma a adequar às expectativas dos alunos, naquele momento, sem distanciar-se da grade curricular obrigatória.Na EJA, a ordem é ser flexível e andar no ritmo da turma para ter resultado. Claro que este ritmo de certa forma é conduzido pelo professor, mas respeitando o cansaço e o sono do aluno/trabalhador, a idade avançada do aluno/idoso, os hormônios que desconcentram oaluno/adolescente e as limitações específicas do aluno de inclusão.
Ensinar ou aprender? Muito antes de ensinar, a aprendizagem durante o estágio foi a tônica desse processo.

REDE DE APOIO
Todas as pessoas da escola, como professores, direção, supervisão e orientação formaram uma rede de apoio em quedirecionaram e ajudavam, constantemente, com orientações e sugestões, facilitando o processo do fazer-pedagógico.

CONCLUSÃO
Ao final deste período de estágio onde foram colocadas em prática algumas teorias e as pesquisas de entorno realizadas anteriormente, foi possível vivenciar como o processo de aprendizado se concretiza diferentemente em cada indivíduo, de uma turma de alfabetização de EJA, com características tão diversas.
A certeza de que o questionamento constante do que fazer para que a próxima aula seja melhor e mais apropriada ao êxito dos alunos, sempre fará a diferença entre o despejar conteúdos e o construir conhecimento.
Portanto, continuar aprofundando teorias e adequando as metodologias à realidade em que a escola está inserida, com certeza, fará a diferença entre docência comprometida e o ensinar mecânico; entre o aluno que aprende significativamente e o aluno que memoriza mecanicamente.






Referências Bibliográficas
VASCONCELLOS, Celso dos S. Metodologia Dialética em Sala de Aula. In: Revista de Educação AEC. Brasília: abril de 1992 (n. 83).



[1] MARX, Karl, Contribuição à Crítica da Economia Política apud VASCONCELLOS, Celso dos S. (1992).

Nenhum comentário:

Postar um comentário